domingo, junho 17, 2007

Metade (de Oswaldo Montenegro)



E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos nem a boca

Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.


Que a música que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que triste

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante

Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.


Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece,nem repetidas com fervor,

apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.


Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço

Que essa tensão que me corroi por dentro seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão


Que o medo da solidão se afaste, que convive comigo mesmo, se torne ao menos suportável

Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância

Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte numa resposta, mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la

Porque metade de mim é a plateia, e a outra metade é canção.


E que a minha loucura seja perdoada,

Porque metade de mim é amor, e a outra metade...também.

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