sexta-feira, julho 28, 2006

Profundo e ruidoso silêncio

Uma noite queimei o meu sonho ...
Fi-lo cuidadosamente para que nada restasse
Ninguém ouviu o sussurro crepitante das chamas
Quando amanheceu levantei-me de onde me sentara
Afastei-me dos escombros enegrecidos e parti
Como não tinha sonhos parti para lugar nenhum
Caminhei sempre pelas veredas picado pelas ervas
Ouvi cuidadosamente o cantar dos grilos
Como quem nada sabe e tudo lhe serve para aprender
Não cheguei a parte nenhuma, apenas vagueei
Não construi castelos no ar nem procurei respostas completas
Fui aprendendo coisas simples:
As andorinhas voando rasteiras quando começa a noite
O sorriso das crianças para afastar o medo
O esforço calculado para apanhar o comboio mesmo antes dele partir
Quando começava a compreender o sentido do movimento
Vi que voltara aos escombros do meu sonho
Ali me deitei, chorando-o por ter perdido as suas recordações
Tanto tempo aí fiquei que me esqueci do que aprendera
Tentei em vão reconstruir o que queimara
Mil fomes eu passei
Em vão gritei:
Não podemos ser felizes só em sonhar?!
(A quem estás a perguntar?)
Em vão gritei
Mil fomes eu passei.
Fugi daquele lugar na madrugada, procurando melhores respostas
Levava um grilo que matara, para não esquecer
Que o seu canto é só o toque das asas no serrilhado das patas ...
E nada de poesias.
!

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